Desfazendo Performances de Gênero “Atravessadas” na Mídia: como desconstruir imagens públicas

Elizabeth Christina de Andrade Lima[1]
Rafaella  dos Santos Porfírio [2]

INTRODUÇÃO

            É inegável o alcance dos mass media no Brasil. Eles se desenvolvem, sobretudo, sob a administração de pequenos grupos de aliados, de grupos de famílias e exercem um papel importante em diversos domínios, como lazer, economia e na prática política. No que diz respeito a esta a chamada mídia hegemônica cumpre um papel central nos processos de marketing político, impulsionamento de campanhas, gestões e, um ponto a ser enfocado neste paper, nos processos de construção da imagem pública[3] e visibilidade de atores políticos. Cabe desde já acrescentar que a visibilidade pública de mulheres candidatas ou exercendo cargos é mínima, quando comparada a visibilidade auferida aos homens políticos. [4]

            Como se não bastasse, a situação de sub-representação do feminino nos espaços públicos de poder é algo que, a cada dia, se torna mais visível. Para “dirimir” tal situação, algumas medidas foram tomadas, a exemplo das Cotas Eleitorais, de no mínimo 30%, para cada um dos sexos nos Partidos Políticos, criada no ano de 1997. No entanto, tal lei, não logrou o sucesso esperado (GROSSI e MIGUEL, 2001). Mas cabe igualmente ponderar que, como afirmam Mota e Biroli (2014), garantir a presença delas nesses espaços não implica necessariamente em representatividade ou mesmo atenção para pautas demandadas por outras mulheres. Além disso, tampouco se tem a garantia de perspectivas que viabilizem uma política feminista e crítica às hierarquias advindas do sistema de gênero e dos marcadores sociais da diferença inexoravelmente atrelados a ele.

            Nesse ensejo é válida a ressalva para o fato da própria ideia de representatividade ser problematizada por vertentes do feminismo, vista como uma possível armadilha de um sistema identitário fixo e restrito. De acordo com Butler (2015), a política de representação produz os sujeitos que deseja representar, isso se dá por meio de processos linguísticos e discursivos, a serviço de determinadas estruturas. Esses processos também reverberam legitimações e exclusões, através de hierarquizações e outras dinâmicas.

            Pensando nos limites dessas identidades e dessa maneira de fazer política Butler assevera que

Não basta inquirir como as mulheres podem se fazer representar mais plenamente pela linguagem e na política. A crítica feminista também deve compreender como a categoria das “mulheres”, o sujeito do feminismo, é produzida e reprimida pelas mesmas estruturas de poder por intermédio das quais buscam a emancipação. (BUTLER, 2015, p. 20)

            Mas se nos encontramos no marco das políticas identitárias e só através delas temos conseguido pequenos, mas importantes avanços em nossas pautas, como proceder? Abandonar essas categorias? Como subverter essa ordem? A autora alega que a urgência não é de abandoná-las, mas de que nos munamos de abordagens ancoradas em perspectivas interseccionais; não bastando, sugere ainda, que nos empenhemos em construir processos genealógicos que analisem criticamente a construção de tais categorias e suas implicações.

            Diante disso, um dos problemas mais recorrentes é o uso da categoria “mulheres” sem que sejam feitas as devidas ponderações. É descabido o pressuposto ou o uso que a entende como um grupo homogêneo, desconsiderando as diversas maneiras existentes de “ser mulher”, de vivenciar essa identidade ou mesmo de não se reconhecer enquanto sujeito dela, mas, arbitrariamente, ser enquadrado enquanto tal por estruturas de poder e instituições.

            Veremos nas páginas que seguem exemplos de discursos veiculados pelos meios de comunicação na campanha presidencial de 2010 que se valeram de apelos a estereótipos de gênero, sobretudo no que diz respeito às então candidatas à presidência da República, Dilma Rousseff e Marina Silva. Ocorre que as próprias, em muitos momentos, também recorreram a tal recurso que, ironicamente, foi utilizado contra elas mesmas em diversas ocasiões quando tiveram, por exemplo, suas aparências questionadas e, no caso específico da ex-candidata Dilma, também sua sexualidade; como também um corolário de práticas de natureza misóginas a ela dirigidas durante a campanha eleitoral de 2014, o primeiro ano de seu governo e o processo de impeachment que culminou com o seu afastamento definitivo no dia 31 de agosto de 2016.

            Dito isto, nesse paper nos empenhamos em compreender os processos de construção da imagem pública, ou mesmo desconstrução, principalmente nos meses que antecederam o impeachment da Presidenta Dilma Rousseff a partir de atributos que apelaram à abordagem de sua vida privada, performance de gênero e especulações das mais variadas, e por vezes violentas, acerca do exercício de sua sexualidade.

O DISPOSITIVO DA SEXUALIDADE

            Nos deparamos com frequência com a veiculação, em diversos espaços, de discursos que estereotipam as relações de gênero, geralmente com base no binômio feminino x masculino e definições de “papéis” a partir dele. Os meios de comunicação, em sua variedade, também o fazem, e aqui daremos a eles uma atenção especial pelo fato de serem potenciais formadores de opinião de uma época e de um povo.

             Os referidos estereótipos se constituem com base em práticas discursivas de estruturas de poder orquestradas por uma lógica construída por meio do que Foucault (1988) chamou de dispositivo da sexualidade. Este que, por sua vez, tem por base o controle de corpos e comportamentos a partir de discursos normativos sobre o sexo e da produção de técnicas utilizadas em processos de normalização da sexualidade.

Desse modo, como parâmetro para todas as relações sexuais é instituída a heteronormatividade, com ela são postuladas e estabelecidas preocupações com a coerência entre aparato biológico, identidade e performance de gênero, desejo e prática sexual dos sujeitos. Para o ativista trans Paul Preciado [5] (2011) tais mecanismos estão a serviço do controle da vida em diversos âmbitos e sob os mais diversos argumentos, como por exemplo a preocupação com a saúde, com o bem-estar da população, o progresso econômico de determinada nação, entre tantos outros.

            Foucault (1988) chega ao estudo do dispositivo da sexualidade por meio de estudos sobre o poder nas sociedades ocidentais em, principalmente, três fases. Cabe evidenciar que não há uma brusca cisão entre elas, mas processos de transformações inscritos em dados períodos históricos que preservam algumas características, se desfazem de outras e incorporam novas. O poder soberano, exercido em meados da Idade Média, foi caracterizado pela centralidade do rei na sociedade e por um controle dos corpos por meio de severas punições e sanções que chegavam à pena de morte, exercida de forma pública.

Como desdobramento da mecânica do poder nas sociedades disciplinares, no século XVIII há a emergência das sociedades disciplinares, que se estendem e têm seu ápice no início do século XX. A principal característica do poder disciplinar é a vigilância, os indivíduos têm a impressão de serem observados a todo momento e temem isso, ainda que não o sejam.

Como desdobramento da mecânica do poder nas sociedades disciplinares, dá-se a emergência do que se denomina biopoder, uma tecnologia de poder que não se afasta da disciplina dos corpos, mas num movimento de agregação implementa novas estratégias de controle que se encarregam de administrar minuciosamente o corpo social.

            O biopoder é então exercido por meio de biopolíticas que se empenham na administração do corpo-espécie através de dispositivos de segurança e tecnologias de controle, na administração do corpo social. Deriva daí o que Deleuze (1990), denomina de sociedades de controle, instaladas no século XX, logo após a Segunda Guerra Mundial.

No contexto do pânico racial táticas biopolíticas desempenharam um papel importante no controle da reprodução e do corpo das mulheres, é também nesse período que seus corpos são esquadrinhados pela ciência hegemônica e lhes são atribuídas a histeria como característica e a maternidade como destino, servindo esta última como atenuante da primeira de acordo com tal ciência.

            Ainda seguindo essa lógica, Gadelha (2013) afirma que o próprio dispositivo da sexualidade atua sobre os corpos femininos a partir de uma estratégia normalizadora de histericização, que consiste em desqualificá-las e disseminar a ideia de que são incapazes de sentir qualquer desejo sexual, que são criaturas eminentemente infantis e frágeis, incapazes de tomar decisões assertivas, de que sua principal função é procriar, educar seus/as filhos/as e cuidar do lar.

Diante disso institui-se a noção de que a maternidade é a única condição que proporciona completude e realização às mulheres. Essa maternidade está associada a um padrão de comportamento e relacionamento heterossexual, desestabilizado e subvertido por diversas mulheres que se identificando enquanto heterossexuais não são casadas nem são mães, que sendo mães não se identificam com a heterossexualidade, que dividem a maternidade com outra ou outras mulheres, que sendo mães e independendo de sua identidade de gênero são incômodas à heteronorma por performarem o que ela entende por masculinidade, dentre outras tantas possibilidades de existências abjetas demais diante da norma.

            Esses discursos que produzem “verdades” em relação aos corpos e sexualidades se instituem a partir de uma lógica de dominação que racionaliza o sexo por meio de processos normalizadores. Eles se dão com base em uma norma que, de acordo com Gadelha (2013), não tem como intuito expiar ou reprimir os corpos, mas estabelecer uma regra a ser seguida a partir de comparações que demarcam diferenças, hierarquizam comportamentos, atuam numa perspectiva homogeneizadora e excluem o que é considerado impróprio, pervertido. Vale salientar que de acordo com Preciado (2011) essa norma e os processos de normalização estão ligados diretamente ao saber médico, embora o extrapolem, e à medicalização da vida. 

ABORDAGENS MIDIÁTICAS INVASIVAS SOBRE DILMA ROUSSEFF

Para fazermos menção a exemplos concretos, do quão rechaçados são esses corpos e comportamentos julgados impróprios, podemos lembrar de acontecimentos da campanha presidencial no ano de 2010 quando, pela primeira vez na história do país, uma mulher foi eleita ao cargo de chefia do Estado. A campanha foi permeada por abordagens bastante problemáticas em relação às mulheres em geral e as duas então candidatas, Marina Silva, do Partido Verde – PV, e Dilma Rousseff, candidata pelo Partido dos Trabalhadores – PT.

            Nos mais variados espaços houve uma forte insistência em discorrer sobre a vida privada delas, sobre a constituição de suas famílias, casamentos, filhos e outros aspectos; ao passo que sobre o candidato José Serra, do Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB, o conteúdo veiculado sobre sua vida pessoal remetia no máximo a seus gostos por artes, bebidas e afins. Além disso, sobre as candidatas, muito se falou sobre suas aparências físicas, a pouca vaidade de ambas e a escassa feminilidade na performance de Dilma Rousseff.

              Com base na análise de entrevistas cedidas pelas candidatas e candidato, citados acima, ao Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, e suas falas no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral – HGPE, Mota e Biroli (2014) apontam que outra peculiaridade da referida campanha foram as abordagens feitas, principalmente, sobre políticas públicas para mulheres e questões relacionadas à maternidade, ao entendimento naturalizado e essencialista do binômio quase inseparável nos discursos: mulher-mãe. Nas palavras delas,

As representações do feminino focam no indivíduo quando tratam de elementos que seriam “naturais” à identidade feminina compartilhados por toda e qualquer mulher. Já quando políticas relacionadas às demandas das mulheres aparecem – como as políticas voltadas para a saúde da mulher, o que se observa é que o discurso sofre um rearranjo e mulheres passam a ser tratadas como grupo, com interesses e demandas definidas. Esse rearranjo não rompe com a primeira forma de representá-las porque essas demandas e interesses seriam desdobramentos de sua identidade “feminina” – tratados de forma homogênea, de modo que todas as mulheres aparecem como mães. Reduz-se, assim, o espaço para que outros interesses e demandas das mulheres, enquanto grupo, sejam tematizados. (MOTA & BIROLI, 2014, p. 08)

Segundo as autoras a reprodução desse estereótipo que essencializa o “ser mulher” nas entrevistas ocorridas no Jornal Nacional ora é feita pelos âncoras que as entrevistaram, ora pelas próprias candidatas. Por estas um marcante recurso utilizado são as analogias que fizeram entre a postura da mulher-mãe-dona de casa e o caráter mais “zeloso” ou “cauteloso” que teriam para governar, como vantagens inerentes por serem mulheres. Aqui, fazemos menção ao que Miguel, criticamente, denominou de “política de desvelo”:

A presença feminina possibilitaria a superação da “política de interesses”, egoísta e masculina, colocando em seu lugar o desprendimento, o zelo pelos outros, a tolerância e a sensibilidade.  (MIGUEL, 2001, p. 260)

A maternidade aparece como um destino inexorável e quase sagrado. Corroborando com essa perspectiva outro assunto que esteve em pauta foi o aborto, o que as propostas de Dilma, Serra e Marina previam para a questão. Argumentos religiosos, questões “morais” e bioéticas, como de praxe, foram mobilizados em diversos momentos e o problema figurou um elemento potencialmente decisivo no resultado das eleições. Quem eventualmente declarasse apoio a mudanças alinhadas a qualquer princípio de flexibilização da legislação vigente no sentido de facilitar o procedimento, ou mesmo legalizar, poria sua candidatura em grande risco.

O tema sobre a descriminalização do aborto ocupou quase toda a pauta do primeiro turno das eleições de 2010. As Igrejas Católica e, principalmente Evangélica, saíram em defesa de criminalizar e não oferecer apoio político ao candidato que afirmasse ser favorável ao aborto e, não só isso, “exigiram” um pronunciamento público sobre sua posição. Não só o tema do aborto, ganhou visibilidade, mas, igualmente, a “defesa da família”, obviamente da família heteronormativa.

https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk03p55UkgMIAWkzepCSnmpRwA0YwGg:1594910445846&source=univ&tbm=isch&q=imagens+do+adesivo+mis%C3%B3gino+com+Dilma+Rousseff&sa=X&ved=2ahUKEwiU1sq0gNLqAhW-D7kGHbnIDikQsAR6BAgKEAE&biw=1600&bih=757 Acesso em 05/07/2020 [6]

A candidata Dilma foi uma das mais pressionadas para indicar, publicamente, a sua posição sobre o aborto e a união entre pessoas do mesmo sexo:

Dilma começou a despertar desconfiança de parte dos religiosos, assim que o líder evangélico Silas Malafaia postou um vídeo em que acusava a candidata petista de ser favorável à descriminalização do aborto e à união entre pessoas do mesmo sexo. (…) O clima que já era ruim, piorou na manhã do domingo 26, quando os petistas foram surpreendidos com milhares de panfletos que foram distribuídos nas portas das igrejas católicas e que pediam aos fiéis que não votassem em Dilma. (Revista IstoÉ, Ano 34, n° 2134, 6 out/2010, p.54)

Para buscar “atenuar” a antipatia e ojeriza das igrejas ao seu nome Dilma teve que se “curvar” e buscar negar toda a propaganda a ela dirigida. Para tanto, realizou eventos com vários líderes religiosos para desmentir que seria favorável ao aborto e, principalmente que teria dito que “nem Cristo tiraria a vitória dela no primeiro turno”. Como se não bastasse, ainda teve que dar a público o que chamou de “Carta ao Povo de Deus” para amenizar a desconstrução de sua imagem no setor religioso.

Em resposta a interferência da religião com a política. Janine Ribeiro assim se expressou: “É um absurdo mexer com o preconceito das pessoas, em vez de se discutir a realidade. É uma baixaria usar a religião, de forma fácil e errada, nas eleições”. (Revista IstoÉ, Ano 34, N° 2135, 13 out/2010, p.40)

O próprio Silas Malafaia afasta-se do apoio dado a outra candidata, Marina Silva, quando sente dela uma indefinição quanto a sua posição sobre o aborto, disse ele: “Desce do muro, minha filha! O cristão tem que dizer a que veio, senão boto chumbo na hora.” (Revista Veja, Edição 2185, Ano 43, N° 40, 6 out/2010, n.66)

O pastor evangélico, Silas Malafaia, chegou colocar sua imagem em um autdoor para defender o que ele chamou de “defesa da família”, ou seja, da união entre um homem e uma mulher, reforçando a construção da heteronormatividade, como modelo de união correta.

(Revista IstoÉ, Ano 34, N° 2135, 13/010/2010, p. 40.)

Como sabemos, processos eleitorais se apoiam num jogo de estratégias e em 2010 não foi diferente. No entanto, surge uma particularidade, as candidatas, diante de uma sociedade regida por valores misóginos e de um cenário político majoritariamente ocupado por homens, tiveram que construir narrativas que as tornassem confiáveis, por meio das quais atestariam que estavam qualificadas para ocupar o cargo ao qual concorriam.

Mota e Biroli (2014) elencam duas principais dessas estratégias, quais sejam: ambas enfatizaram diversas vezes o fato e a importância de ser a primeira mulher na história do país a ocupar a Presidência da República. Além disso, procuraram sobressaltar em suas falas o diferencial existente aí, se eleitas, guiariam seus mandatos pela lógica do cuidado, apoiada no estereótipo de gênero, por meio das analogias citadas acima. Nesse ensejo nos cabe atentar para o fato de que Serra, ou outros candidatos, não precisarem mobilizar argumentos sensibilizadores em função de seu gênero para provar que são capazes de ocupar qualquer cargo político.

Cabe ainda outra ressalva no que diz respeito a essa tentativa de construção de uma imagem, ou mesmo desconstrução de outra, quando as autoras defendem que

Estas narrativas estão presentes principalmente no caso da candidata Dilma, que por ter um perfil anterior visto como masculinizado, parece ter grande necessidade de adicionar à sua imagem tais características femininas. (MOTA & BIROLI, 2014, p.09 )

Essa masculinidade foi associada também por boatos e veículos midiáticos a uma suposta lesbianidade, com diversas características físicas e comportamentais dela sendo apontadas, mas não só, como também abertamente zombadas. A lesbianidade nesse ensejo transgride o paradigma heteronormativo, uma vez que lésbicas podem performar diversas feminilidades e masculinidades, ultrapassam ou habitam as fronteiras da norma de modo que, por vezes, seus corpos são dados como ininteligíveis, “anti-naturais”.

Essa abjeção se torna alvo de ataques conservadores, violentos, e de uma dinâmica de negação, orquestrada por retaliações que se dão das mais variadas maneiras, sendo a lesbofobia uma delas. Uma parte significativa dos crimes cometidos contra pessoas LGBT’s acontecem com requintes de crueldade, com um viés punitivo onde, por exemplo, nos crimes contra gays, travestis e transexuais ocorre empalamento e contra lésbicas a mutilação de sua genitália e/ou o dito estupro corretivo.

Outro exemplo é como várias pessoas que são oposição ao PT chamam tanto Lula quanto Dilma de “ladrões”, mas, não sem coincidência, somente Dilma tem sua sexualidade questionada (talvez por não se encaixar no modelo de feminilidade exigido para as mulheres, por ser uma mulher divorciada ou por ser, novamente, uma liderança com poucos traços do que se espera de uma mulher patriarcal em qualquer espaço; a docilidade, a gentileza e a necessidade de agradar a todos sobre o que se espera de uma mulher) ou é duramente chamada de “mulher macho” ou de “masculina”, não por se assemelhar com indivíduos masculinos e da forma como eles pensam e agem social e politicamente, mas sim por ousar não se enquadrar no que a feminilidade exige de indivíduos femininos. 

Por isso que um tema que congestionou as redes sociais durante a campanha de 2010 da ex-presidenta Dilma foi a sua orientação sexual. Sendo uma mulher sozinha e divorciada, acabou por ser “alvo fácil” para se colocar a sua condição heterossexual em dúvida. Foi postado na rede a mensagem de que Dilma Rousseff teria mantido uma relação homoafetiva estável como uma moça chamada Verônica, que havia trabalhado em sua casa como doméstica, e de que estaria entrando na Justiça para exigir o pagamento de uma pensão. (Consultar: Blog da Dilma – http://blogdadilma.blog.br/, acesso em 24/12/2012.

Novamente nos deparamos com outro “tema tabu” na cultura brasileira. Schwartzenberg (1978), afirma que uma das pré-condições para alguém ser um estadista é este ter uma família – cônjuge, filhos, além de animais de estimação. Só que esta família deve ser composta por um homem e uma mulher e jamais por dois homens ou por duas mulheres. A “carta da manga” dos opositores e simpatizantes a outras candidaturas apostam nessa notícia acreditando no desgaste da imagem pública de Dilma Rousseff. No Brasil o “atestado de heterossexualidade” é outra condição para o indivíduo pleitear um cargo da envergadura da Presidência da República; é como se a orientação sexual interferisse diretamente na capacidade ou no direito do cidadão em assumir certos cargos ou como se não fosse lícito fazer certas escolhas.

Assim quando brasileiros usam o termosapatão (bem como outros termos que façam referência à lesbianidade de forma ofensiva) para se referir a uma mulher que faz parte da política, independentemente da sexualidade da mesma, como as dirigidas a Dilma, isso se faz, entre outras coisas, com o objetivo de fazer com que mulheres sintam-se impulsionadas a se distanciar desta mulher ao invés de apoiá-la e de lutar com e por ela como também, de desqualifica-la como estadista por sua “suposta” orientação sexual.

ESTEREÓTIPOS DE GÊNERO E MISOGINIA DIRIGIDAS A DILMA ROUSSEFF

Na abertura da Copa das Confederações, realizado no Brasil, em junho de 2013, a ex-presidenta Dilma ao ser anunciada no Estádio, recebeu de parte da “torcida” um sonoro “Hei Dilma, vai tomar no cú”. Ficamos a imaginar o impacto que a ex-presidenta sentiu, a vergonha que teve, ao observar, num estádio cheio e com transmissão mundial, ser recepcionada de maneira tão agressiva.

Tal xingamento não é somente uma demonstração isolada de misoginia; desde que assumiu a presidência, Dilma foi alvo de todo tipo de manifestação preconceituosa, que vão desde as críticas ao seu guarda-roupa – facilmente podem ser consultados sites que ridicularizam o seu jeito de vestir-se: por exemplo, o vestido, usado na cerimônia da posse em primeiro janeiro de 2015, de renda, foi comparado a um pano de mesa de centro; uma outra blusa, a penugem de um guiné; uma outra camisa ao mesmo tecido utilizado para cobrir um estofado, e por último, um vestido seu foi comparado a palha que recobre uma pamonha de milho – ou aos penteados de seu cabelo, e, ainda a traços fisionômicos de seu rosto, por exemplo, seus dentes, que logo a fizeram de dentuça, comparando-a a Mônica, do desenho animado de Maurício de Souza e, finalmente, passam por formas pouco educadas de se referir a uma chefe de Estado.

Ademais, Rodrigues (2014) em seu texto, “a difícil tarefa de reagir a misoginia”, acrescenta:

São de uso comum expressões como “a mulher”, “a dona”, “a patroa”, modos naturalizados de se referir às mulheres como donas de casa, e forma de reduzir a importância da figura da Presidente da República. E não apenas entre os pouco escolarizados, como o porteiro que um dia desses dizia que estava tudo uma grande bagunça porque tinha uma mulher na presidência, mas também em episódios recentes em que um economista fez uma palestra pública para uma plateia majoritariamente feminina durante a qual só se referia à Dilma como “a mulher”.

O termo misoginia ganha destaque exatamente dentre os estudiosos de gênero e analistas do governo Dilma, uma dessas analistas é Márcia Tiburi, para quem Dilma foi em seu percurso de figura pública entrecortado por narrativas midiáticas e de discursos de oposição ao seu governo por práticas misóginas:

Ora, a misoginia é o discurso de ódio contra as mulheres, um discurso que faz parte da história do patriarcado, do sistema de dominação e dos privilégios masculinos, daquilo que podemos chamar de machismo estrutural, o machismo que petrifica a sociedade em sua base e impede transformações democráticas. Quero dizer com isso, que a luta pela democracia hoje se confunde com a luta contra a misoginia  e todos os ódios a ela associados no espaço amplo do ódio à diferença. (TIBURI, 2018, p. 106)

Assim que o nome de Dilma foi escolhido para a disputa eleitoral, no ano de 2010, críticas foram feitas pela imprensa a respeito de seu “temperamento forte”. A polêmica de que até mesmo Ministros teriam se queixado ao Presidente Lula quando ela era Ministra da Casa Civil, reforçou a sua representação de uma mulher “mandona”.

Para dirimir essas avaliações sobre o seu “jeito de ser” a candidata assim se expressou em seu Blog, em 24 de dezembro de 2012:

Eu faço o seguinte: não exijo de ninguém o que eu não dou. Numa equipe, cada um tem de fazer o seu papel. Se me cabe fazer a coordenação, eu cobro prazo, realização e também presto contas. Isso é princípio elementar de trabalho em grupo.

Ao ser entrevistada pelo Jornal “The Washington Post”, no dia 25 de junho de 2015, a Presidenta afirmou crer que muito do que tem sofrido em termos de críticas ao seu governo, passa por um recorte e preconceito de gênero, ao ser indagada pelo seu estilo de “micromanager“, ou seja, de chefe controladora ou centralizadora, ela assim se manifestou:

Alguma vez você já ouviu alguém dizer que um presidente do sexo masculino coloca o dedo em tudo? Eu nunca ouvi falar disso”, comparou. “Eu acredito que há um pouco de preconceito sexual ou um viés de gênero. Sou descrita como uma mulher dura e forte que coloca o nariz em tudo e estou cercada de homens meigos”, contestou.

            Ainda a respeito de seu suposto “gênio forte” e das especulações acerca de sua vida amorosa, algo bastante vasculhado por seus adversários, Dilma asseverou durante a campanha de 2010, em seu Blog:

O preconceito no Brasil é uma coisa engraçada. Por exemplo, você estava falando dessa mulher dura, mandona. Você já viu algum homem ser chamado de mandão e durão? Eu fico sempre intrigada por que os homens são sempre meigos, bonzinhos, delicados. Outro dia, o Paulo Bernardo (ministro do Planejamento) ria muito porque ele falou que é o meigo-mor. Eu nunca vi, no Brasil inteiro, dizer que havia um homem duro. Outra coisa que achei interessante foi à investigação da minha vida amorosa. Cheguei à conclusão de que sou a única pessoa que tem vida amorosa no País.

Nunca é demais lembrar que vivemos em uma sociedade patriarcal e essencialmente falocêntrica, ou seja, cingida pela superioridade masculina. O patriarcado exacerba a ideia de que mulheres, seus corpos e mentes são moldados por falos ou homens, moldados por sua vida sexual. Mulheres então são julgadas, independentemente de terem muitas relações sexuais com machos ou não se relacionarem com eles. A mulher que na disputa por espaços de poder, particularmente no ambiente da política, ousa ser incisiva ou ter pulso forte; a mulher que reivindica seu espaço num meio masculinizado como a política, sofre tentativas sucessivas de silenciamento. Um exemplo que descreve muito bem tal intento foi protagonizado pela Deputada Federal Jandira Feghali (PCdoB) que durante discussão das medidas provisórias 664 e 665, em maio de 2015, foi agredida fisicamente pelo Deputado Federal Roberto Freyre (PPS) e verbalmente, pelo também Deputado Federal Alberto Fraga (DEM) que, em uma atitude extremamente machista e com a intenção de desqualificá-la afirmou: “a mulher que participa da política como homem e fala como homem também tem que apanhar como homem”.

Ser associada a uma bruxa também foi algo recorrente durante a campanha de Dilma Rousseff, principalmente na campanha eleitoral de 2010. Silvia Federici (2019, p.62), irá defender que a perseguição às mulheres e a “a caça às bruxas” ocorreram não tão somente como uma maneira de penitenciar a mulher por sua danação, mas como uma forma de subtrair o feminino da nascente ordem burguesa, do nascente capitalismo, do mundo da política, deslocando-a e obrigando-a a viver na subserviência e subordinação histórica de uma ordem justaposta desde sempre: a dominação masculina e o nascente capitalismo: “por que as caças as bruxas foram dirigidas principalmente contra as mulheres? Como se explica, que ao longo de três séculos, milhares de mulheres se tornassem a personificação do “inimigo no meio de nós” e do mal absoluto?” (FREDERICI, 2019, p.62) Indaga a autora.

Em plena campanha a questão do aborto vira uma arma para os conservadores e fundamentalistas religiosos que passam a repercutir, principalmente nas redes sociais, a imagem de Dilma como uma bruxa:

Como a eleição termina no dia 31, em pleno Halloween, nas redes sociais a candidata do PT, Dilma Rousseff, passou a ser tratada por seguidores de José Serra, do PSDB, como uma bruxa a quem será preciso queimar. (…) (Revista Carta Capital, Ano XVI, N°617, 13 out/2010, p.20)

A imagem da mulher como bruxa, sorrateira, perigosa, libidinosa e mordaz também vem acompanhada dessa perseguição às mulheres com o advento do capitalismo. A antiga ordem comunal, no qual a mulher desempenhava um importante papel no seio do grupo social, a sua liderança e capacidade de aglutinar as outras mulheres numa espécie de “communitas” (TURNER, 2013), passa a ganhar um significado totalmente oposto. A mulher que praticava a “gossip”, ou seja, a união, o trabalho comunitário e a vida comunitária, comuns na Idade Média, ganha um novo significado, totalmente oposto, no nascente capitalismo: “gossip” passa a significar fofoca; ou seja, a mulher passa a ser vista como alguém de conversa “fútil, maledicente, isto é, uma conversa que provavelmente semearia a discórdia, o oposto da solidariedade que a amizade entre mulheres implica e produz.” (FREDERICI, 2019, p.75)

Pronto: estão montadas as estruturas léxicas para significar a mulher: um ser perigoso, libidinoso, fofoqueiro e maledicente. Cabe, doravante ao homem, isolar e excluir a mulher das “tentações” de sua “danação”. Ela é um ser impuro, danoso, enganador. A imagem da serpente astuta e traiçoeira definem bem o significado que será auferido a mulher. Portanto, o espaço da rua, do mundo do trabalho, do acesso ao saber, a fala, a convivência comunitária ao mundo da política, da economia, da ação social e coletiva serão vedados a mulher. Tais espaços e atribuições passam a ser do homem.

Em contrapartida, a mulher terá como espaço a casa, o privado, a vida reclusa em “quatro paredes”, sem acesso ao estudo, à vida coletiva, a participar e decidir sobre os destinos políticos e econômicos de sua sociedade. Sua atribuição será, para fazer menção a um jargão antigo, mas bastante utilizado atualmente, a de ser “bela, recatada e do lar”.

Segundo essa visão, que passa a ser a visão dominante, ter um lar, casar e ter filhos deve ser a única ambição de uma mulher. O respeito ao seu marido, à família e aos preceitos religiosos devem ser os seus preceitos. Não à toa que na era moderna uma mulher não casar era motivo de muita vergonha, a ponto de essa mulher, ao perder os pais, ter como destino o convento, a casa de um irmão, a morte. A “vitalina” não teria outro destino.

A grande estratégia e saída encontrada pela lógica do patriarcado foi prender as mulheres na instituição do casamento: “as mulheres foram forçadas a participar desse suposto contrato. Os costumes sociais destituíram as mulheres da oportunidade de ganharem o seu próprio sustento, de modo que o casamento era a sua única chance para elas terem uma vida decente.” (PATEMAN, 1993, p.236)

A opressão feminina, a destituição de seus direitos, a dominação masculina, a lógica do patriarcado (SOIHET, 1989), entre outros motivos, levaram a que o feminismo surgisse como um movimento de questionamento à ordem vigente. (GARCIA, 2015)

Ao questionar problematiza-se uma realidade secular que parece desconectada no tempo e espaço: como fazer prevalecer valores, costumes e práticas culturais que subtraem o feminino dos mesmos direitos e acessos outorgados ao masculino?

Igualdade, partilha, acesso, empoderamento, participação passam a ser palavras de ordem na busca pela autonomia do feminino. Mas tais conquistas, tais lutas não foram, não são e não serão facilmente conquistadas. Ao contrário, a mulher que “ousa” pensar e viver diferente será drasticamente castigada, violentada em seus direitos, quando muito, morta pela violência imposta pelo patriarcado, e a violência, nesse caso, é uma violência de gênero, que dirige ao gênero feminino a sua maior força e ação (SAFFIOTI, 2015).

Outro acontecimento marcante de prática de misoginia dirigido a ex-presidenta ocorreu no dia 08 de março de 2015, Dia Internacional da Mulher. Dilma Rousseff, em cadeia nacional de rádio e televisão, discursava para os brasileiros e para as mulheres em seu dia e recebeu, concomitantemente, um “panelaço” ocorrido em várias cidades brasileiras. Posteriormente observou-se que tal “panelaço” ocorrera preferencialmente em áreas nobres das cidades como uma forma de retaliação a ela. Não obstante, o que chamou atenção não foi o “panelaço” em si, costume já existente, por exemplo, no País vizinho, Argentina, onde a população costuma ir às ruas para realizar “panelaços” para reivindicar diversas melhorias em seu País, mas os adjetivos utilizados para agredir a ex-presidenta, tais como “vaca”, “puta”, “arrombada” enquanto as panelas eram batidas; a jornalista Marina Rossi, no Jornal El País, de março de 2015, assim se expressou:

Durante o pronunciamento em rede nacional de Dilma Rousseff no Dia Internacional da Mulher em 2015, centenas de brasileiros, em 12 capitais do país foram até as janelas e sacadas dos prédios e bateram panelas para se manifestar contra a presidenta. Piscaram as luzes de casa, buzinaram nos carros e gritaram. Além do barulho da colher no teflon, foi possível ouvir xingamentos, como ‘vaca’, ‘puta’ e ‘arrombada’, direcionados à presidenta.

 Tais demonstrações de ódio exacerbaram uma contundente expressão de misoginia, além de tudo, como asseverou Leonardo Sakamoto, em seu blog, em março de 2015:

É preciso muita coragem para gritar a plenos pulmões que alguém é “vaca” da janela do apartamento, com todos os vizinhos e os transeuntes na rua olhando. Coragem ou a certeza de que nada vai acontecer. Porque talvez a pessoa saiba que vivemos em uma sociedade misógina, que premia esse tipo de comportamento. Uma sociedade que é incapaz de fazer críticas ou demonstrar insatisfação e indignação sem apelar para questões de gênero. Chamar de “vaca” não é fazer uma análise da honestidade e competência de alguém que ocupa um cargo público e sim uma forma machista de depreciar uma mulher simplesmente por ser mulher. De colocá-la no seu “devido lugar”, que é fora da política institucional.

A violência simbólica que está por trás do uso do termo “vaca”, como explicitado acima, revela ainda, um desejo e intenção expressas de desconstrução do “outro”, de desqualificar o seu lugar social, como indevido, como um não-lugar (AUGÉ, 1994). Como não sendo o ambiente da política, particularmente da presidência do Brasil, o lugar adequado para a mulher, porque ela nada mais é que uma “vaca”. Nada mais misógino e machista que isso.

Quaisquer xingamentos à Dilma diminuem ou reduzem a condição da ex-presidenta pelo fato de ela ter nascido mulher, este é que é o problema e não o “panelaço” em si, no entanto, a própria escolha de uma panela para protestar contra ela parece algo bastante emblemático. Luzia Àlvares (2015), ao comentar, para o blogspot, sobre o uso de panelas, e não de outro objeto, assim assevera:

Por que utilizar justamente uma panela para protestar contra a primeira presidenta mulher eleita em nosso País? Certamente há objetos muito mais eficazes para se fazer barulho, então qual a razão da escolha das panelas? Cogitar de coincidência parece pouco verossímil, sobretudo em se tratando de uma sociedade notadamente misógina e patriarcal como é o caso da nossa. A intenção por trás do objeto escolhido é, sem dúvida, construir esta óbvia alegoria machista que visa introjetar subliminarmente a mensagem de que o lugar de Dilma é na cozinha, e não no Palácio do Planalto.

            Nestes termos, então, tanto o objeto panela, quanto os adjetivos “vaca”, “vagabunda” são a expressão de uma prática violentamente misógina e igualmente de ódio dirigidos a ex-presidenta. Destruí-la, desconstruí-la como mulher e como estadista parece ser a condição para aplainar o descontentamento por ela ter sido eleita.

            Outra forma altamente violenta de prática misógina em forma de cartazes expostos em manifestações que aconteceram ao longo dos anos de 2014, 2015 e, principalmente, durante o processo de impeachmente de Dilma, em frases com conteúdos violentos, postadas em diferentes redes sociais, em vídeos, em montagens de imagens, charges etc.

O que se observou foi uma escala crescente de discursos e práticas que tentaram desqualifica-la como mulher e como gestora. Sejam nas redes sociais, como o Facebook em páginas que se intitulam: “Dilma Sapatão” ou “Dilma Vadia”, Impeachment da “maldita” Dilma,[7] entre uma gama de outras páginas do Facebook que estimularam o ódio contra a Presidenta e contra o PT, seja no formato de manifestações públicas, protestos contra a Presidenta – pedidos de impeachment, orquestrados e ocorridos no Brasil por manifestações de grupos que se auto intitularam de “Revoltados on-line”, “Vem pra rua”, “Movimento Brasil Livre” (MBL) e o “SOS Militares” – vimos se repetir o discurso de repúdio e misoginia a ela dirigidos.

Nunca se viu e se leu tantas manifestações de desrespeito a uma figura pública. Mal a ex-presidenta assumiu o governo as manifestações não cessaram de acontecer, em forma de frases violentas, tais como: “Dilma biscatona véia”, “Vai pra Cuba comunista de merda”, “Vaca”, “Vagabunda”, “Balança que a quenga cai” entre outros adjetivos, escritos em formas de cartazes que foram expostos em diferentes dias de manifestações pelas ruas do Brasil

Como se não fosse suficiente todas as práticas de misoginia a ela dirigidas foi surpreendente a circulação pelas redes sociais de imagens de montagens feitas com o corpo da ex-presidenta em que ela aparece de pernas abertas. Tais adesivos, segundo a montagem realizada, foram colados no bocal do tanque para abastecimento de veículos, e que quando abastecidos, passassem a ideia de que a bomba de gasolina penetrava sexualmente a ex-presidenta:

A partir da interpretação esboçada, subjaz a existência de relações de poder, de dominação e de resistência, de conformação ou de embate à hierarquia e, sobretudo, do desejo incessante por parte de grupos partidários de ideologias arbitrárias em preservar a manutenção da monovaLência dos signos, as desigualdades sociais e históricas de gênero e os desníveis de poder entre os gêneros, o que se traduz em condições para manter uma ordem social que favorece seus interesses específicos, principalmente no que tange à detenção do poder político como apanágio exclusivo do masculino, guiado por códigos sexistas, o que exclui as mulheres e busca delimitar o lugar que se quer dar ou negar a elas na esfera pública e política. (PRIORI; POLACO: 2016, p.43)

Tais adesivos foram colocados à venda no site de compras “Mercado Livre”, mas diante da ação da então Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), por meio da ministra Eleonora Menicucci, encaminhou ao Ministério Público Federal, à Advocacia Geral da União (AGU) e ao Ministério da Justiça, pedindo providências para responsabilizar quem produziu e veiculou tais adesivos. O produto estava disponível no site “Mercado Livre”, mas diante da repercussão negativa, retirou o anuncio do ar.

A violência simbólica de tal adesivo é tão evidente que chega a ser cruel. O adesivo simula inclusive algo que deveria ter recebido o repúdio de todas as mulheres, porque ele simula um estupro e nesse caso, um estupro coletivo. Simbolicamente é como se Dilma, ao ser coletivamente estuprada estivesse sendo punida por não ser capaz de conseguir impedir o aumento do preço da gasolina:

Isto demonstra que a ideia de punição adotada pelo discurso enunciado perpassa uma questão de gênero, ao submeter Dilma Rousseff ao referencial falocêntrico, ou seja,o falo é entronizado como um atributo corretivo da insubordinação feminina e política. O falo é usado simbolicamente como uma arma para ferir e punir. (…) o falo pode ser constituído como um símbolo de virilidade, que toma por base as diferenças entre os corpos biológicos para fundamentar a diferença social e as hierárquias entre os gêneros. (PRIORI; POLACO: 2016, p.48-49)

            Em algumas notas de repúdio de movimentos organizados em defesa dos direitos das mulheres foi possível encontrar enunciados tais como o descrito abaixo, em julho de 2015:

A liberdade de expressão tem limites regulados em lei. Qualquer tentativa de protestar contra o aumento do combustível ou contra a chefe do Executivo brasileiro ultrapassou os direitos de imagem, e passou a configurar afirmação de violência contra a mulher. A imagem da mulher no adesivo, remetem a mensagem de uma violência sexual, o que por si é uma expressão inadmissível de suportar diante do atentado a dignidade sexual que convivemos cotidianamente. Além disso, a mulher em questão é a Presidenta da República, o que reforça a violência sexista que enfrenta a mulher na política. As mulheres brasileiras se sentem ofendidas, desrespeitadas. Expressões como essa não retratam o exercício de democracia. É escárnio, deboche, é violência contra a mulher!

A aposta no escárnio, no deboche e na violência contra a mulher expondo a ex-presidenta Dilma a essa experiência vexatória e de violência, a essa situação ridícula e extremante misógina, parece, por fim, ter um fim bastante estratégico do ponto de vista do senso comum e dos setores mais conservadores da sociedade brasileira: desconstruir o feminismo porque ele é uma força que põe em perigo e pode desestabilizar a dominação masculina e a ordem do patriarcado presente em nossa cultura, na sociedade e na política.

Antes de concluir esse tópico me remeto a mais duas outras situações marcadamente misóginas, sofridas pela ex-presidenta. A primeira diz respeito a uma matéria que foi publicada pelo Jornal Correio Popular, no dia 21 de março de 2016, intitulada “uma pessoa para namorar Dilma”, escrita pelo jornalista Joaquim Mota. Na matéria lê-se trechos como os seguintes:

(…) Se abrisse o coração para um relacionamento, tendo companhia de alguém para compartilhar os eventos e as emoções, talvez pudesse expandir os horizontes e sair um pouco desse escafandro de guerrilheira e autoridade obstinada. (…) Agora Dilma deve pensar e agir mais como mulher, mãe e avó. E decidir afetuosamente, pelos milhões de brasileiros que equivalem a seus filhos.

O enxerto do discurso, acima descrito, coloca claramente a visão misógina que se pauta no medo do feminino, ou seja, no medo da mulher emancipada, que opta por uma experiência de vida na qual a figura masculina não serve de couraça de proteção afetiva e de dependência de que natureza for; ao observar-se à figura de mulher tão “dura”, o autor apela, para a feminilidade de Dilma, que precisa se sensibilizar pois afinal é “mulher, mãe e avó” e portanto, assim deve ver o Brasil, como um ente feminino e seu povo, como seus filhos. Por acaso, o leitor já leu tal comparação e necessidade de tratamento ser cobrado ao gênero masculino? Já foi solicitado a um político ver o seu país com o olhar de homem, pai ou avô? É por isso que esse discurso, não só é eivado de estereótipos do gênero feminino como igualmente, caracteriza-se por uma construção misógina e altamente violenta a figura da mulher política.

Por último, propomos algumas reflexões sobre uma matéria digital veiculada pela revista IstoÉ, em primeiro de abril de 2016, e distribuída em seu formato impresso em seis de abril, e que traz na capa a imagem de uma Dilma enlouquecida e com a seguinte manchete: “As explosões nervosas da Presidente. Em surtos de descontrole com a iminência de seu afastamento e completamente fora de si, Dilma quebra móveis dentro do Palácio, grita com subordinados xinga autoridades, ataca poderes constituídos e perde (também) as condições emocionais para conduzir o País”.

A capa, produzida para reproduzir a imagem de que Dilma estivesse realmente louca, na verdade é uma montagem: “mesmo a foto que ilustrava a capa era manipulada: uma imagem tirada quando a presidente comemorava um gol do Brasil na Copa do Mundo foi tratada por computador e apresentada como sendo o flagrante de um ataque de raiva contra algum subordinado.” (MIGUEL, 2019, p.138-139)

Escreveu Charaudeau, em seu “Discurso das Mídias” (2006, p.38) que “a linguagem é cheia de armadilhas” e acrescentaria, armadilhas, sobretudo, simbólicas, pois o enunciado, antes de tudo, significa e, ao significar, oferece distintas possibilidades de interpretação.

Na matéria assinada pelos jornalistas Sérgio Pardellas e Débora Bergamasco, em oito páginas, o que se vê é a construção da imagem pública de uma mulher, no mínimo, à beira da loucura. Asseveram eles:

Os últimos dias no Planalto têm sido marcados por momentos de extrema tensão e absoluta desordem com uma presidente da República dominada por sucessivas explosões nervosas, quando, além de destempero, exibe total desconexão com a realidade do País. Não bastassem as crises moral, política e econômica, Dilma Rousseff perdeu também as condições emocionais para conduzir o governo. Assessores palacianos, mesmo os já acostumados com a descompostura presidencial, andam aturdidos com o seu comportamento às vésperas da votação do impeachment pelo Congresso. (PARDELLAS; BERGAMASCO, 2016, p. 34)

A narrativa construída pelos referidos jornalistas tenta desconstruir a imagem de Dilma, impingindo a ela a característica de uma mulher desequilibrada que, por não “suportar as pressões” por “tantas denúncias” a ela dirigidas e, na imanência de perder o cargo, reage da forma mais negativa e triste possível: destratando e desrespeitando os seus subordinados e depredando o patrimônio público. Com base em tal construção narrativa, cabe aqui apresentar o que formula Charaudeau (2006) quando defende que:

Comunicar, informar, tudo é escolha. Não somente escolha de conteúdos a transmitir, não somente escolhas de formas adequadas para estar de acordo com as normas do bem falar e ter clareza, mas escolha de efeitos de sentido para influenciar o outro, isto é, no fim das contas, escolha de estratégias discursivas.” (CHARAUDEAU, 2006, p.39)

O efeito de sentido esperado pela matéria da aludida revista não é outro senão o de desqualificar Dilma Rousseff de suas competências para continuar a exercer o cargo de presidenta do Brasil. Como o leitor pode continuar a apoiar uma gestora cuja saúde mental se encontra tão debilitada? E continua a matéria a fazer suas denúncias de forma apócrifa já que nenhuma fonte é citada sobre a veracidade das informações coligidas:

Segundo relatos, a mandatária está irascível, fora de si e mais agressiva do que nunca. (…) dispara palavrões aos borbotões a cada nova e frequente má notícia recebida. (…) Há duas semanas, ao receber a informação da chamada “delação definitiva” em negociação por executivos da Odebrecht, Dilma teria, segundo o testemunho de um integrante do primeiro escalão do governo, avariado um móvel de seu gabinete, depois de emitir uma série de xingamentos. Para tentar aplacar as crises, cada vez mais recorrentes, a presidente tem sido medicada com dois remédios ministrados a ela desde a eclosão do seu processo de afastamento: rivotril e olanzapina, este último usado para esquizofrenia, mas com efeito calmante. A medicação nem sempre apresenta eficácia, como é possível notar.” (PARDELLAS; BERGAMASCO,  2016, p. 34)

Quebrar móveis, depredar o bem público, “sustentar-se em pé” a base de calmantes, um deles, inclusive, utilizado para pacientes com esquizofrenia é o quadro que é apresentado sobre a saúde mental da Presidenta. E continua a narrativa sobre o seu descontrole mental segundo os citados jornalistas, desta feita amparando-se no saber médico:

O modelo consagrado pela renomada psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross descreve cinco estágios pelo qual as pessoas atravessam ao lidar com a perda ou a proximidade dela. São eles a negação, a raiva, a negociação, a depressão e a aceitação. Por ora, Dilma oscila entre os dois primeiros estágios. Além dos surtos de raiva, a presidente, segundo relatos de seus auxiliares, apresenta uma espécie de negação da realidade. (PARDELLAS; BERGAMASCO. 2016, p. 36-37)

No discurso acima se concretiza aquilo que Charaudeau (2006) denomina de efeito de verdade, ou seja, de que ele estaria baseado na convicção. “O que está em causa aqui não é tanto a busca de uma verdade em si, mas a busca de credibilidade, isto é, aquilo que determina o “direito à palavra” dos seres que comunicam, e as condições de validade da palavra emitida.” (CHARAUDEAU, 2006, p.49)

O “saber médico” chancela o descontrole emocional da presidenta, restando então, ao leitor, a convicção de que Dilma perdeu o equilíbrio emocional. Para completar esse raciocínio, acrescenta a matéria:

É bem verdade que Dilma nunca se caracterizou por ser uma pessoa lhana no trato com os subordinados. Mas não precisa ser psicanalista para perceber que, nas últimas semanas, a presidente desmantelou-se emocionalmente. Um governante, ou mesmo um líder, é colocado à prova exatamente nas crises. E, hoje, ela não é nem uma coisa nem outra. (…) Os surtos, os seguidos destemperos e a negação da realidade revelam uma presidente completamente fora do eixo e incapaz de gerir o País. (PARDELLAS; BERGAMASCO, 2016, p.37)

O artigo se encerra com a narrativa de um outro jornalista, Antonio Carlos Prado, que, subliminarmente, faz uma comparação do comportamento “transloucado da presidenta” com o comportamento exibido por Dona Maria I, mãe do regente Dom João VI, que entrará para a História conhecida com Dona Maria, a louca.

Não é exclusividade de nosso tempo e nem de nossas cercanias que, na iminência de perder o poder, governantes ajam de maneira ensandecida e passem a negar a realidade. No século 18, o renomado psiquiatra britânico Francis Willis se especializou no acompanhamento de imperadores e mandatários que perderam o controle mental em momentos de crise política e chegou a desenvolver um método terapêutico composto por “remédios evacuantes” para tratar desses casos. Sua fórmula, no entanto, pouco resultado obteve com a paciente Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança, que a história registra como “Maria I, a Louca”. Foi a primeira mulher a sentar-se no trono de Portugal e, por decorrência geopolítica, a primeira rainha do Brasil. O psiquiatra observou que os sintomas de sandice e de negação da realidade manifestados por Maria I se agravaram na medida em que ela era colocada sob forte pressão. (PARDELLAS; BERGAMASCO, 2016, p.39)

A referida matéria produziu, nas redes sociais, pelo menos uma dezena de matérias denunciando o caráter machista e misógino desta notícia sobre o comportamento supostamente “transloucado” da Presidenta, chegando a revista, como visto, compará-la a “Maria I, a louca”:

Um ataque às mulheres! É um acinte, um desrespeito e uma violência contra todas as mulheres a capa da Revista IstoÉ com um texto vexaminoso, utilizando todos os estereótipos e adjetivos machistas e misóginos, para desqualificar uma mulher na Presidência do Brasil!

 Tal intento, ao que tudo indica não é só o de passar a ideia de que a Presidenta estaria mentalmente desorientada e emocionalmente perturbada, mas de desconstruí-la como mulher estadista, novamente reforçando o ideal machista de que o lugar da mulher não é na política, muito menos no mais alto cargo do poder do Brasil, por ser a mulher, emocionalmente frágil, perturbada quando sofre pressão ou quando é levada a ter que tomar “sérias decisões”. Mais uma vez a tentativa extremamente violenta, é o de desqualificar a mulher para a vida pública:

O que aconteceu com Dilma Rousseff nos ensina a compreender o funcionamento de uma verdadeira máquina misógina, máquina do poder patriarcal, ora opressor, ora sedutor, a máquina composta por todas as instituições, do Estado à família, da Igreja à escola, máquina cuja função é impedir que as mulheres cheguem ao poder e nele permaneçam. (TIBURI, 2018, p.106)

Em outras palavras, o que Tiburi (2018) assevera acima, é chamar a atenção para uma prática sistemática de impedimento para que a mulher ocupe espaços de poder, seja ele na política ou em outras atividades laborais. As “engrenagens” da misoginia, da estigmatização de gênero e do sexismo são acionadas para exatamente frear, impedir, tais inserções.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realidade é permeada de contradições e disputas ideológicas. O âmbito da política não diverge e não se desenvolve sozinho, isolado, mas numa troca constante de informações e peças com a mídia e com as construções sociais de determinado povo. Diante disso, ainda que imperceptivelmente, Dilma, ao se utilizar de discursos que reforçaram estereótipos de gênero, caiu, ela mesma, nas armadilhas que eles trazem, por não atender em um ou noutro aspecto os padrões impostos pela heteronorma. Mas, em meio à nossa estrutura social, era praticamente inconciliável a adoção de outro discurso e a possibilidade de ser eleita.

Em 2013, ao ser abordada por uma multidão de jornalistas um deles perguntou se ela seria “homossexual”, irritada respondeu que se recusava a discutir coisa de tal natureza, e que era mãe e avó. Nas entrelinhas da fala, a maternidade lhe asseguraria a heterossexualidade inquestionavelmente. Ser mãe e avó não lhe bastou para que não fosse questionada quanto ao seu comportamento considerado pouco feminino, aos seus trajes, cabelo e peso.

Outras situações invasivas e até mesmo violentas continuam a acontecer e se acentuaram durante o processo de impeachment sofrido pela ex-presidenta. Na falta de argumentos e provas plausíveis sobre qualquer crime de responsabilidade, o que justificaria o impedimento de seu mandato, diversos artifícios foram mobilizados a fim de deslegitimá-la. Vadia, “malcomida”, sapatão e louca, como vimos, foram só algumas das palavras dirigidas a ela.

Julgada incapaz de concluir seu mandato e acusada de jogar a economia do país na “lama”, foi impedida de continuar no cargo que conseguiu por meio de votos legítimos até o fim do mandato. A capa da primeira revista IstoÉ de abril de 2016, como visto, chamou Dilma de louca e histérica, e não restam dúvidas de que se em seu lugar estivesse um homem as retaliações enveredariam por outro caminho e sob a patente de outros argumentos.

Por várias vezes foram acionados discursos reiteradores da histericização da mulher, por todos os lados e de diversas maneiras. A infantil, incapaz de tomar decisões assertivas, dependente de um homem, louca, temperamental, emotiva e frágil, eminentemente materna, etc., essas e outras características atribuídas por tabela ao que se entende por mulher, é produto de construções sociais, culturais, políticas e econômicas que se construíram e reforçaram mutuamente atravessando décadas. Nos cabe pensar e produzir políticas, práticas, discursos e uma educação alternativa, que se pretendam não essencializadoras, binárias e misóginas para a construção de novos paradigmas e outras maneiras de vivermos e sermos sujeitos políticos.

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[1] Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará. Professora Titular de Antropologia da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. [email protected]

[2] Mestre em Ciências Sociais pelo Programa de pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Campina Grande. [email protected]

[3] Neste paper adotamos a noção de imagem pública proposta por Gomes (2004) para quem: “A imagem pública de um sujeito qualquer é, pois, um complexo de informações, noções, conceitos, partilhado por uma coletividade qualquer, e que o caracterizam. Imagens Públicas são concepções caracterizadoras. (…) Caracterizar, portanto, é estabelecer uma personalidade e uma personagem, uma forma de existência em si mesma e uma forma de existência para fora, de existência representacional, de imagem”. (GOMES, 2004, p.254-255)

[4] Sob este aspecto, consultar o texto de Luis Felipe Miguel e Flávia Biroli, com o título: Homens e Mulheres na Mídia. (2011, p.125-165.

[5] O texto Multidões Queer: notas para uma política dos anormais foi lançado quando Paul ainda não havia adotado seu nome social e, portanto, consta nas referências bibliográficas assinado por Beatriz em 2011.

[6] Daqui por diante todas as imagens contidas no texto foram retiradas do seguinte endereço: https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk03p55UkgMIAWkzepCSnmpRwA0YwGg:1594910445846&source=univ&tbm=isch&q=imagens+do+adesivo+mis%C3%B3gino+com+Dilma+Rousseff&sa=X&ved=2ahUKEwiU1sq0gNLqAhW-D7kGHbnIDikQsAR6BAgKEAE&biw=1600&bih=757 Acesso em 05/07/2020.

[7] Consultar as seguintes páginas: https://www.facebook.com/pages/Dilma-Sapatao/1393692150893618?fref=ts, acesso em 31/05/2015, https://www.facebook.com/pages/DILMA-VADIA/390752141045603?fref=ts, acesso em 31/05/2015 e https://www.facebook.com/pages/Impeachment-da-maldita-Dilma/877477795597879, acesso em 31/05/2015, respectivamente.